segunda-feira, 23 de agosto de 2010

AMOR É DECISÃO

“O amor não se alegra com a injustiça, mas se alegra com a verdade. Tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” (I Co 13.6,7)

O amor é uma das palavras mais difíceis de se definir em nosso vocabulário. O Dicionário Miniaurélio diz que amor é: 1. Sentimento que predispõe alguém a desejar outrem. 2. Sentimento de dedicação absoluta de um ser a outro, ou a uma coisa. 3. Inclinação ditada por laços de família. 4. Inclinação sexual forte por outra pessoa. 5. Afeição, amizade, simpatia. Podemos perceber que a definição de amor do dicionário está relacionado ao sentimento e a paixão por alguém. A amizade, afeição e a simpatia, nos trazem algum lampejo do que realmente é o amor, mas não conseguem chegar a seu âmago.

Nossa sociedade vive o amor utilitarista. Ama-se por algo mais do que pelo amor e seu objeto, o ser amado. Ama-se porque se quer algo em troca. Nunca é simplesmente dar, mas somente receber. Quando se dá, é uma dádiva que não é dádiva, mas barganha. Dádiva é graça, amor interesseiro é troca. Ama-se pelo que o ser amado tem ou pode fazer em prol de quem procura amar.

Amar não é ser feliz por aquilo que se vai ter, mas por aquilo que já se tem. Esse é um amor ilusório. É como uma bolha de sabão. É bonito enquanto contemplação, mas quando se toca, se desfaz, acaba, perde o brilho, a vida. Tais pessoas que assim amam, colocam o amor naquilo que não se tem. Quando o possuem, deixam de amar. A semelhança de alguém que se apaixona e luta por conquistar o ser amado. Quando conquista, perde o sabor, a paixão, o desejo, e se aventura numa nova busca do amor-pelo-que-se-almeja-ter, e não por aquilo que já se alcançou.

Nossa sociedade ainda vive o amor como sensação. É o amor passional. Amar é sentir. Aquele calafrio resultado dos batimentos cardíacos alterados quando se vê alguém que se ama e se sente o desejo sexual, são sinônimos do amor. Mas quem disse que amar é sentir apenas? Quem disse que a realidade do amor se manifesta quando o sentimento aflora? O amor envolve sentimento, mas transcende a sensação.

Amor é decisão mais que sensação. Amar é decidir. Amar é se dar. Amor é mais comportamento que sentimento. O amor passa pelo sentimento, mas em sua transcendência, chega a sua plenitude no gesto, na ação, na prática em prol do ser amado. Quem ama sente, mas quem sente, nem sempre ama. Amar é sentir, mas é mais, é agir. Desde um singelo gesto de trazer um copo de água para alguém que amamos que acabou de chegar com sede, até um carinho, um beijo, um presente, a lembrança de uma data especial, enfim, percebemos que o amor age mais que sente, mas também sente, por isso age. Contudo, se a sensação não leva a ação, não é o amor verdadeiro, é mera abstração do gostar.

Amar é alegrar-se na verdade. O amor tem como ação a sinceridade. Sempre vive a verdade. Não há espaço para a mentira. Fala a verdade quem ama. Amar é viver e dizer a verdade. Sempre preza por uma gota de verdade ao invés de um oceano de mentiras. O verdadeiro amor tem como pilar comportamental a verdade no pensar, agir e sentir do amante e do ser amado.

Amar é tudo sofrer. O amor traz a capacidade de lidar com o sofrimento. A despeito de tudo e todos o amor faz com que seres humanos limitados e mortais lutem pela vida junto ao ser amado. O amante prefere sofrer que permitir que o ser amado sofra. Amor é auto-sacrifício. Não importa a situação, o sofrimento ao invés de findá-lo, eterniza-o. O sofrimento cristaliza a relação do amante e do ser amado. Ao invés de matá-lo, ele vivifica-o para a eternidade. Amar é saber sofrer.

Amar é tudo crer. O amor é pai da fé. Ele acredita. Acredita mesmo em face da oposição. Ele desacredita da incredulidade. É cético em relação ao ceticismo. Para o amor não existem palavras como: Não posso! Não dá mais! Acabou! Ele sempre vai lutar contra as evidências, as provas, os laudos, as postulações. O amor é incrédulo quanto à falta da capacidade de continuar. Seu lema é: Vamos, seremos sempre vencedores! Como filha do amor a fé faz com que seu pai se fortaleça, se eternize, seja perene. Amar é sempre acreditar.

Amar é tudo esperar. O amor tem outra filha: a esperança. Ele jamais se desespera pois sempre está esperando. O verdadeiro amor faz com que haja sempre a sensação de que tudo pode ser mudado. Não se dá por vencido, espera, espera, espera, e continua esperando. Muitas vezes o amor espera pela esperança, pois parece que ela foi embora. Mas essa capacidade de esperar pela esperança, nasce nos momentos de crise onde o amor é testado, provado, forjado, crisolado, para que venha a ser uma grande jóia que vai mostrar sua beleza para todos ao redor. Amar é saber esperar.

Amar é tudo suportar. Amar é transpor e vencer obstáculos. Mas não se tornar capacho de alguém, suportando tudo, a dor, o espancamento, as palavras torpes, ou desprezo sem falar nada. Isto não é o amor, é tudo, menos o amor. No mínimo pode ser falta de inteligência, e no máximo a nunca existência do amor entre o amante e seu amado. Amar é tudo suportar para viver ao lado do ser amado. Lutar a luta contra o des-amor. É ser e viver como vitorioso do amor mesmo em face das circunstâncias adversas. O amor aprende a ser amor quando aprende a suportar o des-amor.

Por fim, podemos dizer que nessa relação do amor sensação e ação, Shakespeare nos ajuda a entender que “[...] o amor não é amor se ele muda ao encontrar uma mudança, ou desaparece quando a frustração procura afastá-lo” (trecho do Soneto 116). Perenidade e não transitoriedade é amor. Eternidade e não futilidade. Segundo a Bíblia, três coisas na vida são perenes: a fé, a esperança e o amor. A fé e a esperança são filhas do amor. Mas o amor em sua paternidade da fé e da esperança é maior. Isso porque só pode acreditar e esperar quem ama. Ama de coração, da alma, do âmago do ser; de dentro, do interior; mas transcende a sensação, chega ao seu ápice: a ação. Só podemos dizer que vivemos o verdadeiro amor se o que sentimos em nossos corações por alguém ultrapassa a sensação, desemboca na ação, no gesto, no comportamento, na verdade, no sofrimento, na fé, na esperança, e na vitória suportando as provações. Amor é decisão!

Por

Prof. Hamilton Perninck Vieira

28/07/06

Um comentário:

  1. Muito lindo esse texto, estou pensando em recitar parte dele no meu casamento.
    Parabéns!

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